domingo, 25 de março de 2012

Aquela flor murcha dentro de um exemplar antigo de escrituras mágicas nunca mais sairá dali. Ali, por entre livros bolorentos e ligeiramente mal cuidados escondidos em uma prateleira quase perdida em meio a tanta bagunça no quartinho de dormir. A luz do sol quase não incide nas belas capas rasuradas que me fazem ter alegria para continuar por aqui. Leitura é como andar descalça em chão fofinho, ou deitar num colchão velhinho que tem cheiro de casa da vovó. É como passar tardes com amigos imaginários que moram dentro daquelas páginas e um papel amarelado, e que, ao abrí-las, deixam-lhes livres para passear pelo cômodo espaço onde me encontro. Tenho sensação assim de vez em quando; nas outras vezes quem se transporta para as páginas amarelas sou eu, tentando achar um cantinho confortável em que eu possa me acomodar e observar a história acontecer, sem interrompê-la por algumas horas. Nem percebo o tempo passar, estou ali e temos todo o tempo livre do mundo. Não houve em nosso mundo, ou mesmo nos paralelos, sensação melhor do que sentir-se conquistada e presa a um livro. É sentimento maior que paixão. Transporto singelos sentimentos para as amarelas escrituras, fazendo um alvoroço em pensamentos e endireitando-me perante meus anseios. Flores deveriam estar em vasos, esbanjando suas fragrâncias inconfundíveis pelos infinitos ventos de primavera. Confesso que, num âmbito de egoísmo, guardo-as por entre as páginas de Machado de Assis, exatamente na página onde se encontram lindas prosas, e que, carinhosamente, marquei-as para quando quiser alegrar-me, ou mesmo quando desejar ler algo que me traga paz. A dita flor murcha, mas ainda assim continua linda, colorida, e acima de tudo fica com marcas de belas palavras que jamais devem ser esquecidas no quartinho de dormir.

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